quarta-feira, 26 de junho de 2013

Eu gosto de jiló


Por Pejota Moraes


Inofensiva aos olhos de muitos, a aprovação do projeto de lei que permite tratamento psicológico para homossexuais, (que em via dos acontecimentos, tende a ser engavetada) categoriza condição sexual como doença e nos põe diante de um problema muito maior. Segundo “Ele”, não é nada pessoal. Apesar de negros serem amaldiçoados, artistas terem pactos com o diabo e homossexuais agirem sob o domínio do próprio, o detentor destas premissas parece cativar milhões de pessoas se escondendo atrás de algo que deveria caminhar bem longe da política: a religião. 

Dois assuntos que carregam o estigma de ‘nunca serem discutidos’ e por esse motivo acabam caindo no vale da ignorância. Ocorre que estes assuntos muito pouco discutidos, a cada dia que passa caminham ainda mais juntos. O motivo é a ignorância. O não discutir, o não pensar, o não conhecer o ponto de vista do outro. Se “Aquele-que-não-deve-ser-nomeado é a reencarnação de Belzebu e o retrato vivo de auto-preconceito, o quê seria quem compactua com suas idéias ou simplesmente não se posiciona?

Será que parte da população apóia, ainda que não assuma, o projeto de lei da “cura gay”? A resposta pode ser o silêncio sobre o assunto em relação à outros ditos como ‘mais relevantes’. “Ele”, o propagador de preconceitos, – em maiúsculo, pois a sua condição de salvador da palavra de Jesus já o põe em destaque em relação aos outros irmãos – se apropria da inocência – ou imbecilidade, se preferir – de quem precisa crer em uma força maior para sobreviver.

Essa força maior é chamada de religião por alguns, mas nestes moldes eu prefiro chamar de culpa. Essa grande massa de ovelhas precisa crer que para os seus erros, há um juízo e um perdão. Apontar o erro – ou pecado – do outro é o meio de desviar as atenções dessa força superior deles próprios. Ao invés de propiciar uma auto reflexão de modos, estas pessoas incluem os outros nas suas regras ideológicas buscando moldá-los a partir daquilo que pensam acreditar. O julgamento é aqui, a condenação também. Desculpe a ignorância, mas isso é bíblico?


                                   

Respeito toda e qualquer religião, ainda que suas ideologias divirjam do meu discernimento sobre as coisas. Mas eu vejo que não há reciprocidade. A religião fica em um âmbito superior ao do respeito ao direito e espaço do outro. Pautar a vida alheia através dos seus próprios preceitos de normalidade por si só já é absurdo. Mas o que não é absurdo nesse assunto? O que deveria elevar, nos leva de volta aos primórdios. O tal do presidente daquilo que foi criado para defender aquilo que ele mesmo condena (!), além de se tornar o cara que ironiza e tira sarro do modo de vida alheio, se vê no ‘direito humano’ de abrir precedentes nas leis para justificar o preconceito. 

Não, a lei não é tão grave assim. Regulamenta um procedimento de acompanhamento psicológico para aquele ser ‘diagnosticado’ gay. Um procedimento que nem a Psicologia reconhece, uma vez que não há nada na ciência que aponte que homossexualidade seja um resultado de desvio patológico. Olhando assim pode não parecer grave e parece até bobagem fazer barulho sobre o tema. Mas não é bem assim.

É natural não se ver nada demais nessa lei inofensiva considerando a situação política do nosso país hoje... Mas e se amanhã ou depois formos ‘abençoados’ por um governo conservador ou menos democrático? Já pensou como essa lei poderia ser usada? Não sei se você se lembra de um tal de Hitler e se conhece os argumentos que ele usou para exterminar milhares de judeus e perseguir negros, gays, entre outros, mas não custa estudar. Não se esqueça que ele tinha o apoio da religião, que na minha humilde opinião só atrapalhou no processo histórico de evolução humana até hoje.

                                       

Estamos aprendendo a falar sobre política e a caminhar na mesma direção com idéias diferentes da nossa. Isso é evoluir. Mas isto não está acontecendo – e pode demorar ainda para acontecer – na questão religiosa. Se por um lado nunca se discutiu tanto democracia, partidos políticos, constituição, por outro nunca fomos tão preconceituosos e intolerantes por causa de nossa religião.

Interessante caminhar rumo ao progresso e abandonar o retrocesso, independente se assunto atinge ou não atinge diretamente você. Hoje, aquele seu vizinho é doente por que curte homens e não mulheres. Amanhã será sua tatuagem amaldiçoada, sua vida desregrada em vícios por causa de sua cerveja, até que vai chegar uma hora colega, que até o jiló refogado que você adora vai ser ração do capeta.

Por Pejota Moraes

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Um comentário:

  1. só um adendo sobre a "cura gay"

    O CFP proíbe psicólogos de oferecer o tratamento para correção da sexualidade pois, em todas as tentativas de corrigir a sexualidade humana, não houve nenhum tratamento que desse certo, pelo contrario, foi diagnosticado que as pessoas que passaram por tais tratamentos, continuarão com a sua sexualidade e adquiriram outros distúrbios psíquicos, muitos chegaram ao suicídio.
    Como disse acima, este projeto intitulado de "cura gay" é para retirar essa proibição e deixar psicólogo tratarem LGBT’s ego distônicos reforçando a ego-distonia, como vem sendo feito a dezenas de anos em consultórios, hoje, clandestinos. Até então nenhuma novidade mas, com a aprovação deste emenda, psicólogos voltará a usar tratamentos para a “cura gay”(por isso o nome do projeto), livremente. bem, nenhuma novidade até então.
    O que todos devem ter em mente é se um LGBT quiser um tratamento para a sua sexualidade, o profissional deverá tratar da sua ego distonia com a ego sintonia, o CPF não proíbe esse tratamento e orienta os psicólogos a fazerem esse tratamento, caso o psicólogos não tenha capacidade para tal ato, o mesmo deverá indica-lo a um que possa ajuda-lo, mas jamais reforçar a ego distonia.

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